quarta-feira, abril 18, 2007

Todos juntos: OÁSIS!


O calor voltou. As roupas diminuíram, os egos emanciparam-se da razão e os escassos espaços verdes da cidade enchem-se para o provar. O jardim da Gulbenkian ( todos juntos: OÁSIS!!) está salpicado de tops e maus calções, de putos para quem ninguém tem paciência quando o sol está bom. O verão na cidade é cansativo... e eu adoro.


É por isso que estar a escrever este post numa sala de computadores da faculdade é mais trágico. Vocês, a quem a vida sorriu e que têm net em casa, provavelmente desconhecem este tipo de lugares - talvez tenham passado muito ao de leve pelo lugar para ir reservar uma sala de grupo - mas nunca pararam para veslumbrar o nicho pois nada vos diz, embora uma luzinha no vosso interior se sinta segura ao saber que, caso haja necessidade, eles cá está, e não parece assim tão mau...
Desenganem-se meus lindos, há uma razão pela qual os acessos a essas salas são sempre tão manhosos: como um labirinto gregono meio da cidade que esconde um terrível monstro que envergonha a população - ou talvez alguém adepto de meias brancas - as salas de computadores escondem-se por detrás do edifício principal, por detrás de um longo corredor, por detrás das casas de banho, por detrás de um funcionário com uma t-shirt do Hard Rock Café gasta e como bastante relevo na zona do umbigo... No meio do grotesco labirinto, uma sala feia. E quando digo feia digo Ferreira Leite feia, digo verruga no sobrolho, digo Cavaco com o fato de banho do Borat. A sério, entrar na sala sem cuspir é um teste de carácter e, a avaliar pela quantidade de gosmas no balde à entrada, não deve esperar muito de quem estuda ciências sociais e comunicação (mas não é preciso um balde cheio de nhanha pra vos dizer isso, right?

A primeira coisa que se aprende quando se é obrigado a frequentar estas espeluncas é que nunca há computadores suficientes. Aliás, até pode haver, mas das duas uma: ou não têm monitor, ou não têm rato. Por vezes até falta o teclado mas é mais raro, pois é mais difícil de roubar - não perguntem acerca dos monitores, vocês não querem saber e eu também não.
Enquanto esperamos pela nossa vez de utilizar as poucas máquinas funcionais, há tempo (muito) para olhar o espaço com mais atenção: Os nossos olhos são indefesos perante as cores berrantes dos cartazes afixados em absolutamente todos os cantos limpos da sala, que falam inanidades utópicas sobre a proibição de comer ou beber, falar ao telemóvel, falar alto e usar "programas de chat". Quando alguém se levanta da cadeira o nosso coração bate mais depressa, mas enquanto observamos a pessoa a abandonar o Messenger para gritar para o seu telemóvel que a sandes que está a comer já é de ontem, perdemos a esperança.

A perseverança é a característica chave dos nativos: o importante é não abandonar a fila de espera, pois é certo que esse será o momento em que aquela gaja chata da turma de Sociologia se vai embora, deixando o lugar livre. Aquele cu gigante está sentado em ouro puro!

Estamos finalmente sentados e contemos brados de júbilo, mas o humor muda quando olhamos para o teclado: a barra de espaços parece gritar a cada batida, o delete não está onde devia estar e, com alguma atenção, podemos notar uma pequena cultura de cogumelos a crescer saudável entre o S e o F.
Tudo bem, é melhor que não ter.
Clicamos no IE do desktop (inundado de ficheiros com nomes como "Situando a Sociologia -Politica" e "Fotografias de Mulheres Africanas") e somos automaticamente direccionados para o blogue da última pessoa que cá esteve, que nos fez o favor de meter as suas escrituras tão essenciais como home do browser.
Sairíamos rapidamente para as páginas que nos interessam, mas a velocidade é tão má que temos tempo para ler todo o blogue enquanto o site carrega.
Ler faz bem.

Nestes tempos de loading, cedemos sempre à tentação de olhar à volta - temos mesmo que saber, não é?
Nunca aprendemos: a comunidade cabo-verdiana, sempre em grande nesta sala, troca pareceres em crioulo, assumindo provavelmente que toda a gente é ou devia ser falante; ao meu lado o Carlos, de quem se diz que nasceu aqui, vê pornografia barata num monitor cor-de-rosa; os italianos vão escrevendo o máximo de mails possíveis numa hora, tirando a intervalos médios de 5 minutos mais uma peça de roupa... e mais uma, ... e mais uma, ... e WOW! Volta-se ao nosso mundo e o site está longe de ter carregado. Tudo bem, a derrota faz parte da vida, o que importa é competir, pelo que abandonamos a sala não sem algum arrependimento, mas para gáudio do infeliz que tanto esperou pelo nosso lugar.

Lá fora o Sol atordoa e ouvimos os passaros cantar pela primeira vez em semanas. Os prédios irradiam luz e cor, os automóveis não são assim tão barulhentos e o cheiro da gasolina até desperta. Uma ida à Gulbenkian (todos comigo: OÁSIS!) é material de sonhos e descobrimos que, afinal, somos bem felizes como citadinos.
Como o menino que, quando liberto da arca frigorífica avariada em que se tinha trancado a jogar às escondidas, olhou a lixeira e achou-a colorida...

4 comentários:

Anónimo disse...

Nao gostei da imagem que me veio à cabeça quando falaste no cavaco. Tive que ir vomitar :P

hugo disse...

Eu gostei do cavaco, nesses trajes tão sensuais, embora mais sensual que isso só mesmo eu a fazer de recheio numa sandes cujo pão é Soares pai e Soares filho com essas roupas eroticas...
Computadores publicos são sempre deprimentes... Strip de gajos italianos... pornografia barata num computador rosa... fotos de mulheres africanas, punheteiros com desculpa... "Que tás a fazer?!" "tou, tou... isto não é porno... estes seios... é para um trabalho... mulheres africanas...

KrystalNight disse...

OÁSIS!!!!

AHAHAH! Isso é mesmo mau! Ter de andar isso tudo pra la chegar, aposto que deves passar por alguns que desistiram a meio do caminho nauseados pelas visões terríficas ou simplesmente exaustos pelo cansaço.
Ao menos na minha faculdade há pc's na biblioteca que dispensam aquelas senhas de acesso manhosas, que não se sabe porquê são sempre pedidas.

"Como o menino que, quando liberto da arca frigorífica avariada em que se tinha trancado a jogar às escondidas, olhou a lixeira e achou-a colorida... " Esta imagem está fabulosa! eheh

Não desesperes, agora que sabemos onde é a zapp... é como se diz... acidentes acontecem!

kadgi disse...

ai essa zapp...