quarta-feira, dezembro 19, 2007

Como acabar uma amizade?

Como se acaba uma amizade? Um namoro, isso é fácil, há sempre a desculpa do "não és tu, sou eu", ou "encontrei uma pessoa que não é melhor que tu em nada, mas que me fez pensar nas coisas", ou o mítico "já não gosto de ti dessa maneira, mas podemos ser amigos.". Numa amizade todas essas frases perdem o sentido... A sociedade faz da amizade uma espécie de instituição, um muro inabalável, assumindo que as pessoas não mudam e, se mudam, mudam todas no mesmo sentido. A única forma "natural" de acabar com uma amizade é o afastamento causado pelo atarefado dia-a-dia, ou pelos desínios geográficos da vida de cada um. Como se acaba uma amizade de um dia para o outro, alguém com quem convivemos regularmente, mas que por uma razão ou por outra deixou de nos ouvir, ou nós deixámos de a ouvir a ela?
É muito mais doloroso e difícil admitir o fim de uma amizade. Toda a gente nos diz que os amigos são para sempre e nós forçamo-nos a acreditar nisso, acabamos por tomar as nossas amizades como garantidas.
E se as exigências de uma amizade mudarem? E se os polos da amizade forem forçados a inverter-se, se as funções de cada um dentro da relação forem obrigadas a mudar? E se as pessoas não tiverem a capacidade necessária para se adaptar? E se a obrigação da amizade as fizer continuar a insistir num caso perdido, algo que já não tem remédio? E se ambas as partes querem continuar amigas, mas não conseguem? E se a separação é tão dolorosa que ambas sofrem horrores e afastam o momento fatídico o mais possível? Consultam um conselheiro matrimonial? Não. A amizade é supostamente autosuficiente. Supostamente cura-se a si mesma, confiando no tempo e no bom senso. (E se o bom senso não existir e o tempo for escasso?)
A amizade é, supostamente, a maior instituição dentro das relações. Um namorado/marido deve ser primeiro um amigo, o que deixa o amor para segundo plano. As nossas relações positivas com a nossa família baseiam-se numa espécie de amizade selada com pacto de sangue (essas sim, são ainda mais difíceis de acabar, mesmo que já estejam partidas há muito tempo). Tudo se baseia na ideia da eterna e inabalável amizade, na impossibilidade de haver uma discórdia grande o suficiente para causar o fim da mesma. Um amor acabar é considerado normal, já uma amizade...
Mas o que é o amor, afinal? Não será uma amizade mais intensa?
A intensidade do amor causa quebras no inquebrável muro da amizade, os abanões fazem as fundações mais fracas ceder rapidamente. Não será a amizade igual ao amor? Sim, não é socialmente aceite beijarmos a nossa melhor amiga ou termos relações sexuais com ela, mas não é considerado normal dormirmos juntas, abraçadas até? Não é considerado normal partilhar momentos da vida com a melhor amiga, momentos únicos e especiais, assim como o é com o objecto de afeição?
Se a amizade tem tantas parecenças com o amor, não será então natural que também ela acabe quando exposta a circunstâncias que não consegue sustentar?


Porque será então que a amizade e o amor se dão tão mal?