terça-feira, maio 08, 2007

É simples.

A simplicidade fascina-me.

Sou desprovida da capacidade de ser simples e por isso sou infeliz. Penso demais nas coisas.

Porque todo aquele que pensa, examina. Todo aquele que examina disseca os mistérios da vida roubando-lhe lentamente a magia e a vontade de existir. É esta, em suma, a causa da depressão. O conhecimento da triste realidade. O reconhecimento de que não há mesmo mais nada, que o que se vê é aquilo que temos. E isso é insuportável. Tão insuportavel que procuramos refúgio nas coisas mais absurdas, nas rotinas mais castradoras, nos vícios mais destutivos. Afogamos as mágoas em visitas ao supermercado e baldes de gelado de litro e meio, enquanto nos viramos para o ecrã e lhe imploramos que nos entretenha. Lemos a Maria, a TV Guia, a Mariana e a Caras para nos lembrarmos que não é por sermos bonitos e famosos que temos menos problemas. Rimo-nos da desgraça alheia com desdém e escondemos as vergonhas próprias junto ao pó da casa, por baixo do tapete de arraiolos da gigantesca sala de estar. Falamos do amigo da tia da filha da vizinha que diz que fez não sei o quê á sobrinha do marido da Maria Amália e que ela agora está muito mal, coitadinha.

É esta vergonhosa a essência do ser humano: renegamos a tão invejada inteligência sem nos apercebermos disso. Apagamos a consciencia com entretenimento barato, musicas descartáveis e relações amorosas superficiais, enquanto nos obrigamos a acreditar piamente que temos uma missão no mundo, que somos imprescindíveis à humanidade. E isso faz-nos humanos burros.

Burros, mas felizes.

5 comentários:

Joanne disse...

É sem duvida dos melhores textos que aqui escreveste (em segundo lugar está o problema do teclado =P) Gostei mesmo do texto ;) e infelizmente, é bem verdade...somos pouco inteligentes em tudo, até nos sentimentos. MAs no dia em que não precisarmos de nos fazer notar, no dia em que não precisarmos mais do carinho e da atenção, quando conseguirmos sobreviver sem o outros e só com os outros, sem ligações sentimentais ou afectivas, vamos ser muito felizes e inteligentes. (estás a ver, as coisas de cinema sobre o futurismo até fazem sentido...coff)

kadgi disse...

Isto está muito bom e conciso, é mesmo das melhores coisas q escreveste aqui ( em segundo lugar está aquele poema odioso).

Também já me perguntei muitas vezes acerca do poder da ignorância: muitas vezes preferia não saber, muitas vezes preferia não pensar e, como tu, também dou por mim a pensar que a felicidade está no alheamento...

Mas depois pergunto certas e determinadas coisas:
- Aquelas pessoas que vemos como alheadas, as tais das musicas, das relações manhosas e isso tudo, serão eles mesmo felizes? Não terão elas problemas também, simplesmente não os mesmos que os nossos?
- É certo que pensar nas coisas marca, pensar muito nas coisas marca muito mais e, se formos pessimistas, a "depressão" é certa. Mas pergunto-te: que tem isso a ver com felicidade?? Os góticos e os actores cultivam a tristeza, serão por isso necessariamente infelizes? Ou melhor, interessa ser feliz??

As nossas acções definem-se perante os outros, mas o pensar define-nos perante nós mesmos. Se pensas muito, assumes-te como mais interessante para ti mesma e isso nada tem de mal... Uma mini-depressão de vez em quando é um pequeno preço a pagar pela nossa identidade, acho eu... Concordas?
Bjocas e parabéns pelo post, quem me dera ser tão conciso....


Btw, Fritz Lang ao poder??

Anónimo disse...

Lol :P

(desliguei o filtro, se calhar por isso é que saiu mais lógico)

agriao disse...

Ah, e o "n" voltou, acho que deu pa perceber :p

KrystalNight disse...

se fossemos burros não veríamos pk o verdadeiro burro é só akele k n ker aprender e n o k n tem capacidd pra isso. O Fernando Pessoa tb pensou nisso, quando criou o Alberto Caeiro:

"Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais."