sábado, janeiro 06, 2007

Ai doutor, que me doi!

O natal foi um bocado chato porque apanhei um princípio de pneumonia. O ano novo foi uma merda porque ainda o estava a curar. E vocês pensam "aaai coitada..." e eu penso: "aaah e tal, isto não pode piorar muito...". Mas pode. E piora, acreditem. Se tiverem uma crise de falta de ar que vos obrigue a ir às urgências do Santa Maria no primeiro dia do ano e se ainda por cima tiverem que ir com o vosso pai que vos põe ainda mais nervosos... piora. Muito.


Mas passou-se. Umas recomendações para aqui, um "se calhar isso é asma" para ali, uma indicação para marcar consulta de alergologia, uma receita de um corticosteroide e umas largas horas mais tarde estava fora do Hospital.

Ora vai daí que, surpresa das surpresas, a falta de ar não passou. Sendo eu portuguesa (especialmente depois de ter tentado a via normal) obviamente que recorri à cunha. Mas, caros amigos, este país está tão mal que já nem com cunhas se anda pá frente. Combinei com um doutor amigo de uma doutora amiga da minha mãe (reparem a cadeia de conhecimentos tão característica dessa prática comum que é a cunha) Às 9 na entrada das urgências do Santa Maria, para ele me ver e dizer o que achava. Ás 8:30 estava lá. Memorizem este número, porque é bastante importante para o que se segue. Passam-se as 9, passam-se as 9:15, as 09:30... e lá para as 9:45 eu comecei a achar que o sotôr estava um bocado atrasado e que era um pouco estranho ninguém ter vindo falar comigo. Como me desenrasco razoavelmente bem em hospitais, demorei pouco para encontrar o paradeiro dele (cerca de uma hora e meia a andar de serviço em serviço). Vai daí que me dizem que o doutor está numa operação e que vai demorar um bocadinho, mas que se eu quiser posso esperar por ele, que ele me ia ver depois. E eu esperei... e esperei... e esperei. Duas horas da tarde e eu continuava à espera, em jejum porque podia ser preciso fazer exames ou analises ou qualquer coisa. Desisti, almocei e tomei os medicamentos. E continuei à espera, as senhoras sempre a dizerem que estava quase, e que quem já tinha esperado 5 horas também esperava mais duas e mais uma e mais duas... Chegamos Às 18:30 e a operação finalmente acaba. Obviamente que as secretárias me poderiam ter dito que o médico estava a fazer uma operação aos intestinos e tinha-me ido embora às 11 da manha, mas isso não lhes pareceu lógico, por alguma razão que o meu limitado intelecto desconhece.

Ponham-se no lugar do senhor, como eu fiz: depois de uma operação de 10 horas, sem comer ou descansar, apetecia-vos olhar pá cara de uma rapariga que tinha "falta de ar"? E ponham-se no meu lugar depois de saberem que eu me tinha posto no lugar dele: Tinham lata para o ir chatear e exigir que vos visse?
Pois. Eu também não tive. Então ele encaminhou-me para uma amiga nas urgências que me disse para ir tirar um raioX ao tórax que estava normal. Então fui encaminhada para uma colega da amiga do doutor que é amigo da doutora amiga da minha mãe que também é minha amiga. E foi aí que começou a melhor parte. Peço-vos que se ponham mais uma vez na minha posição: estou no Santa Maria há pelo menos 11 horas, estive 10 horas à espera sem necessidade nenhuma e não estava a ver o doutor que me tinha sido recomendado, estava a ver a colega da amiga do doutor que me tinha sido recomendado e tinha dores no peito e falta de ar em momentos estúpidos. Digamos que calma e tranquilidade eram difíceis de manter, mas eu até estava a conseguir. Ora a primeira coisa que ela me pergunta foi " è filha de medica, não é?". Diz que isso é pior que ser doente, ser filha de médica… Há Satã, Hitler, o Pinto da Costa e os filhos de médicos vêm logo a seguir na escala de pessoas odiáveis e a abater. Enfim... Eu tentei explicar-lhe que já não era exactamente filha de médica, porque a minha mãe tinha morrido há 4 anos (é sempre complicado, porque eu continuo a ser filha da minha mãe, mas a minha mãe já não é medica, ou pelo menos já não exerce. Mas será que por uma pessoa morrer deixa de ser aquilo que foi a maior parte da vida? Se um médico desempregado não deixa de ser médico, porque é que um medico morto há-de deixar de o ser? Até porque nos referimos a ele como “medico morto”, só este facto não poderá significar que um medico morto continua a ser um médico?). Depois de ler esta pequena reflexão sobre o assunto, compreendem que esta questão seja estranha e que por isso eu tenha dito “ugh… pois, sou, quer dizer, era, a minha mãe morreu há 4 anos”. E foi então que a doutora, com uma voz calma e com ar de quem percebe completamente o que se esta a passar simplesmente disse: "Compreendo". E pronto. Depois disto eu já sabia qual era o meu rumo... A pobre órfã abandonada no segundo ano da faculdade, ansiando pela atenção que a mãe lhe dava quando estava doente... É obvio que a única saída para uma pessoa assim era a psiquiatria e uma receita de anti-depressivos. "Sabe o que se passa... é que eu acho que as pessoas que a viram até agora tiveram receio de lhe dizer que isso pode ser só ansiedade". E eu expliquei-lhe que só me doía o peito quando me deitava completamente na horizontal e que melhorava quando me inclinava um bocado e que a falta de ar vinha quando falava muito ou fazia algum esforço físico. E ela continuava a compreender e continuava a dizer-me que não me estava a acusar de nada e que a ansiedade era uma coisa perfeitamente normal. E eu continuava a dizer-lhe que não me fazia diferença que fosse ansiedade, que só queria dormir e que a falta de ar me passasse. E ela continuava a compreender, obviamente. Mesmo depois de eu lhe dizer que a colega dela tinha dito que eu podia ter asma (depois de ver um exame à função respiratória que eu fiz) e depois de ler o exame completamente (para além da primeira frase que dizia "(...)dentro da normalidade(...)") e de descobrir que esse mesmo exame também dizia "(...)revela sensibilidade já considerável a (...)" e de mudar de expressão por uns segundos depois de ler isso, nada a demoveu do seu diagnóstico. "Afinal, a mãe dela morreu, tem que ser maluca ou pelo menos extremamente perturbada!"

E pronto, aqui estou eu, 12 horas e tal depois, com a mesma falta de ar, a mesma dor no peito, a mesma tosse e uma indicação para a consulta de psiquiatria que diz que eu revelo sintomas de “falta de ar” e dores no peito dos quais as causas não são reveladas no raioX ao tórax. As aspas aqui são mesmo citação, ela realmente pôs “falta de ar” no papel. Eu não quero estar doente, mas isto é no mínimo um bocado frustrante…



Não percam o próximo episódio, porque nós também não!

10 comentários:

Anónimo disse...

Perfeito... Vens provar q o sistema d saude português é a verdadeira ascensão da palavra merda. Tendo em conta q nem através de cunha s consegue alguma coisa... È deveras preocupante!! Afinal de contas qualquer dia a cunha nem sequer serve para podermos arranjar um trabalho decente, remunerado decentemente!

Anónimo disse...

fá desculpa não será assepção?(nao sei se é assim q se escreve) da palavra:S

kadgi disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
kadgi disse...

Meu Deus... mas o potencial de filme musical tuga desta história é flagrante...

(Agrião no meio do hall das urgências desespera.)

AGRIÃO
O tio da prima do doutor da minha amiga disse:

TODOS
Psicossomático!!!

AGRIÃO
E pra quem não está na sala, a falta d’ar tirou-me a fala!

TODOS
Psicossomático!!

(nesta altura os enfermeiros dançam jitterbug e o contínuo inicia o seu número de sapateado.)

Joanne disse...

"Há Satã, Hitler, o Pinto da Costa e os filhos de médicos vêm logo a seguir na escala de pessoas odiáveis e a abater. Enfim..." A primeira coisa que te digo é que foste mesmo a pior da tua idade nesse dia, mas tb foste acompanhada pelas piores pessoas da idade delas...enfim...nem a cunha salva ninguém...Será que hoje em dia já se morre de cunha? credo! Falta de ar psicologicamente agravada...não tenho curso, mas se é de psicologia k precisas, axo k consigo...porque pelo que conheço de ti e das tuas perturbações, eu sinto-me capaz! vem a mim =P
Mas tirando os disparates tds...tax melhor?
Beijokinha

KrystalNight disse...

Er... tipo gostava de saber em que faculdade ela aprendeu esse termo tão médico quanto "falta de ar" (tlv dispneia não?) e geralmente ansiedade não dá falta de ar durante vários dias epah não sei, digo eu, mas afinal o que é que eu sei?!. As melhoras! ****

kadgi disse...

Verdadeira ascensão da palavra?? Lol, vivo a vida a aprender...

Anónimo disse...

Nao sejam maus. :P

kadgi disse...

Sempre.

Anónimo disse...

é capaz.. os erros smp foram o meu fort :S